MIGA, ME CONTA! E APROPRIAÇÃO CULTURAL?
Um dos temas mais discutidos dos últimos anos tem sido apropriação cultural, e apesar da diversidade de culturas espalhadas pelo mundo a cultura negra tem sido a mais visada e copiada dos últimos tempos.
Seja por que o street style tenha mirado nas tendências vindas das ruas, ou por que os modelos de referencia tenham mudado, a verdade é que nunca se teve tanto atrito (e comentários raivosos!) nas redes sociais quanto nos últimos anos. Aqui no Brasil os turbantes tem sido o foco da discórdia, muitos afirmam que a peça não faz parte da historia negra, e sim que veio do oriente médio e foi apropriado (Oi??) pelos afrodescendentes, e por esse motivo não deveria ser um problema.
Será que é isso mesmo?
Vamos combinar que no mundo em que vivemos, nada é proibido, serio.
Você pode usar seu turbante, saree, tatuagens tribais e o que mais você quiser. Mas isso só será aceito se você for uma pessoa branca.
Dúvida? Uma pessoa não branca que use um turbante na rua, na escola ou trabalho será taxada automaticamente como: Macumbeiro. Dez em cada dez negros que tenham usado a peça te confirmará isso sem precisar pensar duas vezes, é só perguntar.
Um detalhe interessante é que quando a peça se tornou tendência e saiu em revistas como Vogue e Elle, os preços eram entre R$ 200 a R$ 700, e as modelos que ostentavam eram: Brancas.
Ainda tem dúvida? Vamos falar sobre tranças!
Uma das tendências mais aclamadas de 201 foram as benditas Boxes Braids (ou tranças boxeadoras, em brazilian language!), todo mundo usou, todas as famosas exibiam o penteado em seus cabelos e ficavam encantadas com a praticidade e beleza. As Kardashians foram consideradas as patronas do estilo (vamos falar mais sobre elas nessa matéria, aguarde!), a família inteira postou sua versão nas paginas pessoais e o mundo, of course, seguiu a risca. Estamos aqui falando de mulheres brancas, endinheiradas, e que lançam a “moda afro” pelo mundo.
Consegue ver algo de errado?
Não?
Vamos a década de 60 a 00, garotas negras que ainda não tinham idade o suficiente para serem submetidas ao famoso ferro quente encaravam uma luta diária nas escolas com seus “cabelos de cobrinha”, puxões dos meninos, risadinhas das meninas.
Era a única forma de esconder os cabelos crespos e encaracolados. Era motivo de risos.
Mas o que isso tem a ver com apropriação cultural? Bem, tudo!
Os dreads, as tranças nagôs os turbantes, bindi’s, todos possuem um significado que vão além da estética, seja religioso ou de resistência.
Em uma conversa com a professora e socióloga Karina Figueiredo, conseguimos uma luz sobre o tema: “Normalmente quem se apropria, é o mesmo que marginaliza. A cultura ocidental há anos segrega e diminui as outras, a menos é claro, quando se interessa.” E não é só na moda que o assunto repercute a musica também tem um histórico complexo com a apropriação de forma ainda mais escancarada, do funk ou ao rock, os casos são famosos.
Quando não estão usando de forma caricata a imagem de pessoas não brancas estão usufruindo de sua arte, gerando dinheiro com sua dor e sua luta diária.
Um rapper branco cantando sobre o racismo e o preconceito que ele não viveu ganha os maiores prêmios musicais disponíveis sem muito esforço, por que infelizmente a cultura negra é linda, mas o negro não.