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O QUE EU APRENDI USANDO COLETOR MENSTRUAL


Quando eu tinha nove anos, eu era surpreendentemente alta para a minha idade (algo muito próximo dos 1.63 que eu ostento orgulhosamente com mais de duas décadas vividas). Meu corpo parecia um pouco mais desenvolvido perto das minhas amigas da quarta série: meus seios começaram a se desenvolver e surgiram abomináveis pêlos em meu corpo, características de meninas mais velhas – já na puberdade.

Minha mãe, sempre atenta, notou que em breve algo aconteceria em meu corpo precocemente – todos os sinais eram presságio de que o tal do castigo de Eva viria – e preocupada com o que isso significaria, principalmente na questão do meu crescimento, me levou a uma ginecologista especializada no atendimento de crianças.

A médica disse que era tarde demais para fazermos algo a respeito e que provavelmente eu ainda cresceria saudáveis 15 cm nos próximos anos, teria altura mediana e que a ingestão de hormônios poderia ser prejudicial: “Deixa vir, mãezinha”. E veio.

Eu tinha nove anos e meio quando menstruei pela primeira vez com tudo aquilo que tem direito, todos os clichês do cinema sobre menstruação expostos no meu corpo infantil. A minha menstruação era irregular, tinha fluxos intensos e eu não conhecia os sinais de que ela viria, o que me levava a constantes e constrangedores acidentes de calças, shorts, saias, sofás e cadeiras manchadas de sangue.

Quando eu tinha dezesseis anos, namorava um cara e consegui menstruar no sofá da sala dele – um sofá branco – e foi um dos dias mais constrangedores da minha vida!

Menstruar para mim era o martírio que começou cedo demais.

Eu odiava aquela experiência sanguinolenta, odiava absorventes, odiava todo aquele contexto, parecia um calvário inesperado que me deixava deprimida, dolorida e envergonhada.

Até que quando fiquei mais velha, entre uns amassos e ou outros com o namorado da vez, percebi que poderia perder a virgindade. Passei pela constrangedora conversa sobre sexo seguro e controle de natalidade com a minha mãe e lá vamos nós ao ginecologista pedir pílulas anticoncepcionais.

Boa!

Agora eu sabia exatamente quando ia menstruar e meu fluxo finalmente se tornou contido, porém era tarde demais. O mal já estava feito e minha relação de ódio ao sanguinho que saia da pepeca já estava rompida para o que, eu acreditava, seria todo o sempre...

Até que num belo dia surgiu na minha vida um objeto que mudou tudo!

A youtuber JoutJout Prazer trouxe pro meu mundo no vídeo “Vai de copinho” o tal do coletor menstrual, que já é sucesso na gringa mas ainda carrega um tabu aqui nas terras tupiniquins. De início, fiquei receosa mas depois de entrar em vários grupos no facebook e descobrir que as meninas que usam AMAM o coletor, resolvi testar e foi sucesso!

Fiz toda essa ladainha para dizer que o coletor mudou minha perspectiva com meu corpo, meu sangue e fluidos (isso mesmo!). Confesso que me sinto até um pouco mística, toda trabalhada no sagrado feminino toda vez que menstruo. Li por aí que tem meninas que pintam até mesmo quadros com o fluxo menstrual e adubam plantas, ainda não cheguei nesse nível de aceitação mas estou perto – muito muito perto.

Listo aqui pra vocês as coisas que descobri usando coletor menstrual, que inclusive não abro mão!

QUAL A MAGIA DA COISA:

A parada é o seguinte: O coletor (ou copinho para as mais íntimas) nada mais é do que uma espécie de funil de silicone cirúrgico hipoalergêmico que é inserido na entrada do canal vaginal – bem na portinha mesmo e tem a função de coletar o sangue proveniente da menstruação (ah vá! não diga?). O que mais assusta é o diâmetro do coletor, porém para inserir você deve dobrá-lo de uma maneira que lhe inspire conforto e que ele possa abrir todinho lá dentro. Uma vez encaixado, o coletor cria uma espécie de vácuo que impede vazamentos.

Lembra do meu trauma? Resolvido! Sobre o processo de colocar, ficam aqui duas dicas: 1 - Se está doendo, não está certo. Volta pro banheiro e coloca de novo! Quando bem encaixado, você nem lembra que ele tá lá dentro. 2 - Se você se sentir “seca”, como acontece com tudo que é inserido na vagina, você sempre pode recorrer a lubrificantes à base de água. Eles facilitam – e muito! – o processo de inserir o negócio. Eu mesma só consigo colocar assim. Vale lembrar às virgens que ao inserir o coletor, você pode romper também o famigerado hímen, o que não é bem um problema há não ser que você pense que virgindade se resume a isso, vamos combinar que a história é mais intensa e o buraco, com perdão do trocadilho, é mais embaixo. E PRA TIRAR, “COMOFAS”?

Tá aí uma coisa que é problemática para quase todas as meninas que usam o coletor, a hora de tirar... A primeira vez é horrível – ou pelo menos foi para Joyce Copsteim, 26, administradora do maior grupo sobre coletores menstruais do Facebook o Coletores Brasil – Menstrual Cups que já conta com mais de 75k membros e que usa o coletor menstrual há 3 anos:

“Eu jurei que eu ia morrer. O pessoal fala em vácuo mas eu não tinha noção de como era forte o negócio! Eu comecei a suar frio no banheiro da minha casa tentando tirar o objeto alojado dentro de mim, aí quando estava quase desistindo fui correndo no facebook, entrei no grupo do Vai de Copinho e fiz um post de ‘HELP, AJUDA A MANA AQUI!’ em poucos minutos uma moça me deu a dica de ficar cócoras enquanto inseria um dedo por dentro do coletor para remover o bendito vácuo e não é que deu certo? Agora que eu uso sempre, pôr e tirar é só amor.”

COMO EU HIGIENIZO ISSO?

A maior preocupação das adeptas ao coletor é o processo de higienização mas fica calma que eu explico: Você precisa ferver o seu copinho no início e no término de cada ciclo.

Você pode fazer isso com uma panelinha esmaltada – comprada apenas com essa finalidade (não vai ferver o leite nessa panela, hein miga!)

A InCiclo vende uma que é uma gracinha e eu encontrei por R$ 56,00 no site da marca.

Você também pode usar um copinho próprio para a fervura que serve pra ir direto no microondas (fica tranqüila que tem tampinha pra vedação). A MeLuna fabrica e inclusive é o que eu uso.

O coletor pode ficar dentro do seu corpinho de 6 à 12 horas. Quando você for esvaziar, você não precisa ferver de novo. Só uma aguinha na torneira e sabonete neutro resolvem esse b.o.

SEGURA O NOJINHO, ISSO AÍ TEM CHEIRO?

Tá aí uma das coisas mais maravilhosas que descobri com o coletor. Se segura na cadeira que essa aí é bombástica: Você sabia que sua menstruação não tem aquele cheiro de morte que você sente no seu absorvente? Quer entender? A ginecologista Dra. Michelle Frazão, 52, explica: “O odor característico da menstruação ocorre em decorrência do processo de oxidação que o sangue passa em contato com o ar. Quando ele permanece dentro do seu corpo, coletado pelo copinho, ele não oxida e logo não tem cheiro”.

E ESSE MILAGRE, É CARO?

Os preços dos coletores variam de R$39,00 (FreeCup) à R$90,00 (InCiclo). Você vai me dizer que é um absurdo perto dos R$5,00 que você gasta no seu pacotinho de Intimus, mas faz as contas comigo: por ano, a mulher gasta cerca de R$ 100 com absorventes externos.

Em 10 anos (tempo que dura um único coletor menstrual), ela terá gasto R$ 1 mil.

Então a economia é no mínimo de R$ 915.

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